Eunice Katunda

13/02/2016 21:12

Eunice Katunda (1915-1990)

 
        Biografia

 

       Eunice do Monte Lima Catunda nasceu no dia 14 de março de 1915, no Rio de Janeiro. Filha da pintora Grauben e de Rubens do Monte Lima, iniciou o estudo de piano aos cinco anos, estreando como concertista aos doze.

       O casamento em 1934 com o matemático Omar Catunda (de quem se divorciará em meados de 1960 adotando o nome Katunda com K) transferiu-a para São Paulo. Entre estas duas metrópoles culturais, Rio de Janeiro e São Paulo, delineia-se sua trajetória profissional, pontuada por encontros e rupturas até sua morte em 1990.

       A composição entra seriamente em sua vida a partir de 1942, quando passa a estudar com Camargo Guarnieri. Abraça a causa da música erudita brasileira, tocando, entre outras, peças de Heitor Villa-Lobos em primeira audição no Brasil e no exterior.

       Já em 1946 volta ao Rio com seus dois filhos, por ocasião da viagem de estudos do marido aos EUA. Na terra natal conhece o músico alemão Hans Joachim Koellreutter e integra o grupo por ele criado, chamado Música Viva.

       Voltado à divulgação de músicas pouco conhecidas e, principalmente, contemporâneas, o grupo Música Viva organizava eventos, transmitia programas de rádio e publicava periódicos. Tinha como objetivo aproximar o público leigo das recentes e elaboradas composições nacionais e internacionais, muitas delas criadas com a técnica dodecafônica.

       Apaixonada e radical como era em tudo o que fazia, Eunice mergulhou fundo nas atividades do grupo. Além de apresentar peças inéditas em recitais e programas de rádio, escrevia e publicava textos sobre o atonalismo e assinava manifestos de apoio à música de vanguarda.

       A ruptura se daria após 1948, quando vários membros do grupo de Koellreutter frequentam o Congresso Internacional de Praga e retornam influenciados pela música engajada na causa socialista. O núcleo principal - formado por Cláudio Santoro, Cesar Guerra-Peixe, Edino Krieger, Eunice Katunda e o próprio Koellreutter - se dissolve, e Eunice parte para a Bahia disposta a fazer pesquisa de campo em terreiros de Candomblé.

       Em Salvador a compositora recolhe cânticos e ritmos utilizados nos rituais místicos para futuras composições. Torna-se parte daquele universo, sendo batizada filha de Oxum e estabelecendo laços de profunda amizade com outros artistas que por lá passaram. Renega o dodecafonismo e as técnicas musicais de vanguarda, enaltecendo os elementos nacionais de origem popular.

       Somente no final da década de 1970 sintetizará todas estas estéticas em suas composições, numa produção musical que revela, acima de tudo, maturidade.

 

       Composições

       Algumas das principais obras de Eunice Katunda foram compostas no período em que era membro do Música Viva, como a cantata O Negrinho do Pastoreio (Prêmio Música Viva 1946), Quatro cantos à morte (estreada na Suíça sob regência de Hermann Scherchen) e Quinteto Schoenberg (estreado em Bruxelas). A compositora trabalha séries dodecafônicas, com excelência e rigor matemático.

       Na versão para piano dos seus Quatro cantos à morte, intitulada Quatro epígrafes, Eunice cria a partir de séries formadas por hexacordes simétricos. Domina o contraponto aprendido com Guarnieri, e aprofundado durante uma viagem à Europa, onde conhece Luigi Nono e Bruno Maderna.

       Frutos da viagem à Bahia, na década de 1950, são os Dois estudos folclóricos, A negrinha e Iemanjá  e Impressões de candomblé, entre outras peças. Nelas, a polirritmia e a sobreposição de melodias modais, derivadas do folclore afro-brasileiro, dão colorido especial às cenas cotidianas, relativas a festas locais ou a cantos de trabalho.

       Nas comemorações de 40 anos do Grupo Música Viva, no final de 1970, Eunice Katunda recriou antigas composições, que estreou em bienais e festivais de música contemporânea. Digna de menção é a obra Três peças para dois pianos e percussão, estreada em 1979 pela compositora com a amiga Beatriz Balzi aos pianos, e Flavio Barros na percussão. A obra resgata partes do antigo Concerto Negro de Eunice, às quais se somam movimentos ricos em efeitos timbrísticos e texturais.

      

       Para conhecer sua obra:

1.  Compositores Latino-americanos 1,2,3 (2 CDs). Beatriz Balzi. Sonopress, 1994.

2. Mulheres compositoras, elenco e repertório (livro). Nilcéia C. Baroncelli. Roswitha Kempf Editores, 1987.


3. Eunice Katunda, musicista brasileira (livro). Carlos Kater. Annablume Editora, 2001.

4. Louvação a Eunice: um estudo de análise da obra para piano de Eunice Katunda (tese). Iracele Lívero. Disponível em: https://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000468786

5. Katunda, Barbosa e Resesnde: compositoras brasileiras acima de qualquer suspeita (artigo). Eliana Monteiro da Silva e Amilcar Zani. Disponível em: https://www.musicologiacriativa.com/#!actas/cxbq

6. Programa Músicas que Elevam apresenta Eunice Katunda e Grupo Música Viva, com o Duo Ouvir Estrelas (vídeo). Disponível em: https://youtu.be/Fn5J3ZK0deg

7. Le Grand Caleidophone – Eunice Katunda (arquivo de áudio). Disponível em: https://www.francemusique.fr/emission/le-grand-caleidophone/2013-2014/eunice-katunda-03-09-2014-18-00

8. Biografia Eunice Katunda – DVD Música Viva (vídeo). Ligia Amadio. Disponível em: https://youtu.be/XLLKo-n8ouY

 

Eunice Katunda (1915-1990)

 
Biography
 

    Eunice do Monte Lima Catunda was born in Rio de Janeiro on March 14, 1915, to Grauben (painter) and Rubens do Monte Lima. At the age of five she began taking piano classes and musical theory lessons. The development of these musical studies led her to perform her first piano concert at the age of twelve.

    In 1934 Eunice married Omar Catunda, mathematician, and they moved to São Paulo (in a marriage that lasted until 1960, when she adopted the surname Katunda with a “k”). Between these two cultural centers, São Paulo and Rio de Janeiro, Eunice developed her professional career in a series of musical (and personal) moments of gatherings and disruptions until her death in 1990.
 
    In 1942 she seriously engaged through the composition path, when she started her musical studies with the renowned composer and maestro Camargo Guarnieri. At that point Eunice had embraced the Brazilian classical music ‘cause’ and started to play, among other pieces, Heitor Villa-Lobos’s works that still were to be premiered in Brazil and abroad.
 
    Eunice returned with her two children to Rio in 1946, by the time her husband was in the USA conducting academic studies. After 
settling down in her home town Eunice was introduced to the German classical musician Hans Joachim Koellreutter and decided to participate in his group called Música Viva (‘Living Music’).
 
    The Música Viva group was focused in disclosing and promoting little-known and contemporary classical music. The group was dedicated to the organization of events, radio programs broadcasting and even specialized newspapers publishing with that objective. It aimed to ease the public access to the most recent and elaborated Brazilian and international classical compositions, 
including the pieces composed with the dodecaphonic technique.
 
    With her passionate and radical character Eunice deeply dove into the group’s activities. She started to present new and unpublished pieces under the Música Viva’s patterns in live concerts and radio programs. She also wrote and published essays about the atonal technique and promoted statements supporting the vanguard classical music.
 
    The separation of the group came in 1948 when several of its members attended the ‘International Congress of Prague’ and 
returned influenced by the music produced under the ‘lights’ of the socialist movements. The groups’ core - which included master members Cláudio Santoro, Cesar Guerra-Peixe, Edino Krieger, Eunice Katunda and H.J. Koellreutter - split and Eunice decided to travel to the state of Bahia to lead a field research on the Candomblé ritualistic music.
 
    While staying in Salvador the composer collected chants and  rhythmic styles performed in the religious rituals as inspiring 
material for her future compositions. Nonetheless the influence from that special universe went beyond that level: Eunice developed 
important friendship ties with other artists present at the cults and was even entitled ‘daughter of Oxum’, a popular religious deity. From that point on Eunice abandoned the dodecaphonic, vanguard musical techniques and adopted nationalist and popular elements in her works. Only in the 70’s Eunice came to synthesize all these different aesthetics into her compositions, revealing a final mature musical production phase.
 
Compositions
 
    Some of Eunice Katunda’s main works were composed during her period as a member of the Música Viva group, such as ‘O Negrinho do Pastoreio’ (Prize Música Viva 1946), ‘Quatro cantos à morte’ (premiered in Switzerland and conducted by Hermann Scherchen) and ‘Quintet Schoenberg’ (premiered in Brussels). The composer worked on her dodecaphonic series with excellence and mathematics strictness.
 
    In the ‘piano version’ of Eunice’s ‘Quatro cantos à morte’, entitled ‘Quatro epígrafes’, the composition evolves from a series of 
symmetric hexachords. She shows dominance of the ‘counterpoint’ technique learned with Guarnieri and intensified during her travel to Europe (when she met Luigi Nono e Bruno Maderna).
 
    During the period she lived in Bahia, in the 1950’s, she composed ‘Dois estudos folclóricos’, ‘A negrinha e Iemanjá’ and ‘Impressões de candomblé’, among other pieces. In all of them the polyrhythmic aesthetics and the superimposition of modal melodies (derived from the African-Brazilian folklore) give special colors to day-to-day scenes, popular local feasts and traditional working chants.
 
    In 1970, during the 40th anniversary celebration of the Música Viva group, Eunice Katunda recomposed past works that had premiered in contemporary music festivals. It is worth-remembering the piece ‘Três peças para dois pianos e percussão’, premiered in 1979 with a performance by the composer joined by her friend Beatriz Balzi (the two pianos) and Flávio Barros (percussion). The piece redeems parts of the older piece by Eunice ‘Concerto Negro’, in which were added rich movements, tone colors and textural effects.
      
More information:
 
1. ‘Compositores Latino-americanos’ 1,2,3 (2 CDs). Beatriz Balzi. Sonopress, 1994.
2. ‘Mulheres compositoras, elenco e repertório’ (book). Nilcéia C. Baroncelli. Roswitha Kempf Editores, 1987.
3. ‘Eunice Katunda, musicista brasileira’ (book). Carlos Kater. Annablume Editora, 2001.
4. ‘Louvação a Eunice: um estudo de análise da obra para piano de Eunice Katunda' (thesis). Iracele Lívero. Available here: https://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000468786
5. ‘Katunda, Barbosa e Resende: compositoras brasileiras acima de qualquer suspeita’ (article). Eliana Monteiro da Silva e Amílcar Zani. Available here: https://www.musicologiacriativa.com/#!actas/cxbq
6. ‘’Programa ‘Músicas que Elevam’ apresenta Eunice Katunda e Grupo Música Viva, com o Duo Ouvir Estrelas” (video). Available here: https://youtu.be/Fn5J3ZK0deg
7. ‘Le Grand Caleidophone – Eunice Katunda' (audio archive). Available here: https://www.francemusique.fr/emission/le-grand-caleidophone/2013-2014/eunice-katunda-03-09-2014-18-00
8. ‘Biografia Eunice Katunda – DVD Música Viva’ (video). Ligia Amadio. Available here: https://youtu.be/XLLKo-n8ouY. 
 
Additional info: https://polymnia.webnode.com/news/eunice-katunda1/